História
Sobre
Biografia:
Mineira de Juiz de Fora, carinhosamente chamada de Sãozinha desde a infância, Maria da Conceição Fernandes é formada em Letras.
Escrever foi um hábito criado quando ainda era criança, já rascunhava suas poesias e imaginava romances.
Já adulta teve oportunidade de aprender com seu avô a Cultura Cigana, da qual é descendente, mas que até então era escondido da comunidade para evitar preconceitos. Seu contato com a Cultura Cigana foi amor à primeira vista, e seu trabalho de pesquisa começou e deu origem ao seu primeiro romance cigano, em homenagem ao seu avô e bisavó. Sobre Rosas e Chumbo. Seu segundo trabalho foi Sonhei com Girassóis, onde mostra outro clã com uma cultura diferente da primeira e de religião católica.
A autora se dedica a aprofundar seus conhecimentos sobre o povo cigano e divulgar essa cultura milenar com o objetivo de romper barreiras e trazer a harmonia e a leveza que esse povo traz. Continua a estudar e produzir livros, contos e poesias homenageando ao povo cigano para desmistificar os dogmas deste povo encantador.

Missão: Encantar...
A Florista
Bem no meio da praça, junto a outros ambulantes, lá estava ela. Uma flor no cabelo e várias flores no cesto. Uma cigana, cabelos pretos, pele dourada, olhos pretos. Roupas coloridas...
Enquanto os transeuntes passavam ela anunciava seu produto:
- Declare o seu amor com uma rosa! Rosa branca pedindo paz! Rosa amarela alegrias! Rosa cor de rosa amor eterno! Rosa vermelha uma grande paixão! Levem rosas para a suas amadas!
Alguns jovens que passavam compravam um botão de rosas da moça. Outros compravam buquê. E assim seguia o dia, a semana, o mês. Todos os dias ela estava na praça vendendo suas lindas flores.
Nesta rotina, também havia um homem que todos os dias, no mesmo horário, comprava doze rosas vermelhas. O olhar triste, baixo e lagrimoso. Apenas fazia o pedido para que ela escolhesse as mais bonitas.
Certo dia, ele chegou e ela já sabendo começou a separar as rosas vermelhas. Ele interrompeu seu gesto.
- Hoje quero apenas uma rosa branca! E deixou cair uma lágrima!
Ela o encarou reconhecendo uma dor enorme nos olhos daquele homem.
- Quanta dor no seu rosto! O que aconteceu com a Dama das Rosas Vermelhas?
- Ela partirá hoje, para nunca mais voltar. Levo a única rosa branca, para a minha despedida.
Ela pegou o botão mais lindo! Aberto e imponente. Entregou a ele sorrindo e dizendo:
-Não precisa me pagar! Leve esta rosa e se despede sorrindo da dama que não lhe merece. Canalize o amor onde possa ser correspondido. Essa dama já tem compromisso!
Ele olhou dentro dos olhos da cigana, meio atordoado. Como ela sabia? Foi o que ele perguntou:
-Como sabe disto? Ela tem compromisso!
-Sou cigana, cavalheiro! Não se esqueça disto!
-Ela leva consigo o meu coração!!!
-Não é bem assim! O senhor está entregando a ela algo que ela já lhe devolveu. Ela já tem dono...
Ele pegou a Rosa branca e saiu pensativo.
Enquanto ele virava a esquina, ela pensava na desilusão que lhe corroía e que nunca mais o veria. .
Um mês se passou. Numa bela manhã ensolarada, a cigana preparava as flores na praça e ao levantar o olhar se deparou com o cavalheiro a sua frente e doando a ela um enorme sorriso.
-Olha! Quem retornou! Então a bela dama está de volta?
-Na verdade não! Durante esses dias eu percebi o quanto sentia falta da Cigana Florista, a quem eu realmente visitava todos os dias…
Ela o olhou e ainda confusa e ele então lhe presenteou com bombons. Já que as rosas ela já as tinha. Apenas como um gesto mais delicado ele colocou em suas mãos uma rosa do cesto.
-Comprarei rosas todos os dias, até que um dia me dê o seu coração….
Sãozinha Fernandes!!!
D. A. Lei 9610/98
Juiz de Fora /MG/ Brasil

Oráculo
Tudo dando errado na vida dela. Uma amiga então lhe disse:
-Eu conheço uma cigana que coloca cartas! Tome aqui o endereço e vá até ela. Pergunte as cartas o que está acontecendo…
Ela olhou para o cartão incrédula. Colocou na bolsa. Seguiu para o trabalho, no ônibus sentada perto da janela, pensava na vida com vontade de chorar. O noivo terminou o compromisso. No trabalho estava cumprindo aviso. Em casa a família estava olhando torto e exigindo novas atitudes. Voltar aos estudos, buscar novo trabalho com maior remuneração. Mas, e ela? Quem pensava nela? o que ela sentia ?
Decidida, na hora do almoço faria a visita a tal cigana. Ansiosa, ela ligou e agendou.
Quando chegou a casa da cigana, ficou uns bons minutos admirando a decoração. Velas, incensos, sinos dos ventos, estrelas na parede, quadros de lua e estrelas. Muitos espelhos. O cheiro era muito agradável. As cortinas e as almofadas coloridas e alegres. A jovem cigana veio recebê-la com um vestido harmonioso de cores uva, branco e lilás. Tinha os cabelos presos por uma trança e uma decoração de pedras torneava a trança.
Um lindo sorriso se abriu e ela se apresentou:
-Sou Carmela! Estou aqui para ajudar. Qual o seu nome?
-Simone!
-Sente-se aqui na mesa! vou servir um chá antes do nosso oráculo.
Simone aceitou o convite e se sentou de frente a Carmela. Percebeu seus lindos olhos verdes muito bem maquiados.
Carmela serviu um chá de anis com maçã. E foi dizendo:
Esse chá é aconchego para a alma!
Simone saboreou o líquido, sabor desconhecido para o seu paladar. Mas foi aprovado!
-Bem saboroso! Não conhecia!
Conhecemos coisas novas todos os dias. Respondeu a cigana.
Terminando o chá descontraído elas foram para a mesa do oráculo.
Carmela lhe disse:
-Sempre sirvo um chá para as minhas visitantes. Enquanto elas relaxam eu consigo fazer uma leitura corporal. Isso já me diz muito sobre quem está comigo.
Simone olhou dentro daqueles olhos intensos e misteriosos. Ainda incrédula, se divertindo com as novidades. Desafiando a cigana com o seu olhar…
O Baralho foi aberto e pronto!
Carmela se revelou:
-Perdeu o amor e o anel de compromisso. Também perdeu seus objetivos de vida. Desencantou com seu trabalho.
Simone se ajeitou na cadeira. Nossa! Será que a sua amiga esteve lá antes e deu todo o serviço?
Carmela encarou Simone e disse:
-Só posso lhe ajudar se você permitir! Não se entra na casa de alguém sem permissão! Assim também são com as cartas. Você precisa olhar para o mundo com os olhos de uma criança. Descobrir o mundo com leveza.
Mas também precisa segurar as rédeas da vida como se estivesse descendo as montanhas. Olhar para o que realmente lhe faz bem. Esse moço que se foi, já foi tarde! ele não é o homem da sua vida!
O homem que ama uma mulher de verdade, não vai embora, quando ela precisa de ombro. O seu trabalho de agora, encerrou o ciclo. Você tem novas trilhas para mostrar o seu talento. Você será a dona do seu horário de trabalho.
Quando você se coloca em primeiro plano nos seus projetos, as outras coisas só chegam para somar. Entre elas o amor. Então o amor próprio é a base de todos os outros amores: Casamento, família, trabalho!
Sempre quando se sentir acuada tome um chá e tente ver a história como se fosse de outra pessoa.
Se aconselhe com o seu coração, e nunca deixe que as pessoas decidam coisas por você. A vida é sua! Você tem que ser feliz com as coisas que faz.
Simone olhou para Carmela e disse:
-Você está certa! Não precisa ver mais nada. Vou fazer o que realmente gosto. Vou abrir meu próprio negócio. Vou arrumar um local para morar. Gosto de banhar cachorros e levar para passeios. Serei cuidadora. Se eu encontrar um amor, ótimo!
-As cartas dizem que ele já está a caminho!
-Então eu já vou para me encontrar com ele.
Simone chegou à empresa recolheu as suas coisas e saiu a procura de um espaço para morar e trabalhar. Montou um hotel para cachorros.
-Em um final de semana prolongado, um jovem dentista a procurou para deixar o seu melhor amigo hospedado. Ao entregar o bichinho, ele olhou para ela e disse:
-Você é a mulher mais linda que já conheci! A atitude de cuidar de animais e largar tudo por isso me encanta. Quando eu voltar de viagem, vamos tomar um café?
Ela respondeu: sorrindo
- Que tal um chazinho que uma amiga me ensinou?
Ele sorriu e respondeu:
- Ótimo!
E assim, Simone nunca mais duvidou das cartas da cigana!!!
Sãozinha Fernandes!!!
D. A. Lei 9610/98
Juiz de Fora /MG/ Brasil

Estrada
Lavínia estava um pouco adoentada e foi passar um tempo na casa da tia. Recomendações médicas.
Era uma área rural, pouco movimento, muita natureza. A estrada era usada por cavalos e gados. As carroças passavam de vez em quando, mas a estrada cheia de trilhas para a natureza , cada dia era uma descoberta para ela.
Ela fazia sua caminhada matinal. Sempre pela mesma trilha na mesma estrada. O dia estava tranquilo. Sol brilhando, frescor do amanhecer.
Cantarolava uma canção, enquanto lembrava das recomendações médicas. Caminhar todos os dias, pegar um pouco de sol, alongar os músculos.
Mas se aventurar pelas marcas na grama e saber onde será que daria? era desafiador, ela resolveu arriscar…
Havia árvores com sombras bem acolhedoras, barulho de água ao fundo. Sentia o estalar da grama e o cheiro fresco do mato. Aromas das ervas e do plantio das frutas nas áreas à sua volta. Havia um laranjal bem florido digno de uma noiva.
Lavínia admirava e andava cada vez mais para dentro das trilhas. Então se deparou com algumas lonas abertas de acampamento. Cavalos amarrados e crianças se balançando em cordas amarradas nas árvores. Percebeu que havia descoberto um acampamento cigano.
E logo veio um jovem em sua direção.
-A moça precisa de ajuda?
-Por favor, desculpe-me. Estou fazendo caminhada, não queria incomodar…
-Imagina moça! Venha se refrescar. Tome um chá fresco para retomar seu caminho. Nosso povo está em festa. Nossa prima se casou. Seja bem vinda!
De fato, Lavínia percebeu que o local estava preparado para uma festa. E o jovem completou:
-Gostamos de casamento pelas manhãs! A Aurora do dia, a estrela maior que é o sol traz sorte e bons fluídos aos nubentes!
Uma cigana trouxe para Lavínia um refresco e colocou flores em seus cabelos. Dizendo:
-Fique conosco para a festa, os noivos já estão chegando. Acabaram de se casar. Agora vamos cantar, dançar e comer…
Lavínia disse para a moça :
-Nem estou vestida para um casamento…
Outra cigana lhe trouxe uma saia.
Uma música começou ao fundo, um som de violino. As palmas faziam as batidas e as ciganas fizeram uma roda para os noivos dançarem.
A noiva radiante movimentava as mãos com graciosidade deslocando as rodas da saia de acordo com o compasso. Bela por natureza e belíssima por sua dança. Acompanhada do jovem que era seu marido. A dança do casal encantava os olhos de todos.
Ao terminar a dança, as outras ciganas se reuniram para dançar em volta dos noivos.
Lavínia sentada em um banquinho de madeira apreciava o mundo totalmente desconhecido. O jovem sentado ao seu lado disse:
-Hoje é um presente, Amanhã a Deus pertence. O passado é a experiência. Aproveite bem o hoje!
Dizendo assim, ele se levantou e foi dançar.
Lavínia devolveu a saia e foi para casa com aquela dança na cabeça.
No dia seguinte, levantou bem cedo para rever os ciganos. Mas ao chegar no local estava tudo vazio. Eles seguiram pela estrada. Um boiadeiro que passava disse para Lavínia.
Os ciganos são assim. Amanhecem em um local e anoitecem em outra estrada. Lavínia foi para casa pensativa:
Hoje é um presente, Amanhã a Deus pertence. O passado é a experiência. Aproveite bem o hoje!
Palavras de um cigano desconhecido na estrada!!!
Sãozinha Fernandes!!!
D. A. Lei 9610/98
Juiz de Fora /MG/ Brasil



Canoa
Canoa
Um rio pesqueiro. Cidade pequena e uma nova professora chegou para dar aulas na escolinha da praça.
Mas ela teria que pegar uma canoa todos os dias para chegar até as suas crianças. Ela tinha medo de águas. Mas o canoeiro era experiente e disse para ela:
-Fique tranquila, levo sempre comigo uma dama que já esteve na canoa sem remo e sem provisões.
A professora não entendia de que ele estava falando. Pensou ser algum ditado local. Ele era um homem um pouco carrancudo. Usava barba e chapéu, tinha a testa marcada de tão tensa expressão. Poderia ser o sol. Mas ao mesmo tempo era suave, poderia ser a mansidão das aguas...
A moça fazia o seu trabalho e ao terminar as aulas lá estava ele esperando para atravessá-la outra vez nas margens do rio.
Ele sempre tão sereno, cantarolava uma canção estranha e não falava enquanto remava. A professora sempre medrosa dá certa canoa virar. Mal respirava e ele calmamente entoava a sua canção.
Para aliviar o medo, ele perguntou a ela:
-Qual o seu nome professora?
-Meu nome é Clara, prazer! E o seu?
-Meu nome é Pablo! Olhe, não precisa ter medo. Sei remar muito bem! Cuidarei bem da senhora!
-Oh, Pablo, perdoe-me, mas realmente esse balanço assusta me muito! Prefiro a segurança de terra firme.
Ele deu um sorriso e respondeu:
-Canoa Dona Clara, é como a vida. Balança pra cá e balança pra lá. Você precisa perceber o movimento da água para aprender a remar. Assim consegui chegar ao seu destino.
Ela olhava a sua frente e via a imensidão do rio. Um arrepio lhe passava e então resolveu fechar os olhos e apenas ouvir o cantarolar do canoeiro.
Era um la ra la que ela não conhecia, mas gostava da melodia. Quando ela descia, ele outra lhe dizia o incompreensível.
-Tenho sempre uma Dama que me leva e me traz. Estou sempre seguro!
Clara desceu e seguiu seu caminho pensando quem seria a Dama que ele sempre mencionava de forma aleatória sem concretizar toda a fala.
Na próxima vez ela perguntaria…
Então ela entrou na canoa e foi logo ao assunto:
-Pode-me dizer mais sobre a tal Dama que o senhor carrega nesta canoa?
-Certamente! Uma Dama de luz e encantamento. Está sempre comigo. Os olhos não podem vê-la , posso sentir sua presença. Quando ela esteve na terra, foi jogada ao mar em uma canoa sem remos e sem alimentos. Era uma escrava de pele negra. Mas ela tinha um poder maior. Ela tinha fé, humildade e confiança. Clamou por Cristo Santo e se tornou a padroeira do meu povo. Levando o nome santo a todos os cantos onde os ciganos alcançavam. O nome dela é Sara Kalli. E eu sou o Cigano Pablo. Guardião das suas palavras. O rio representa as lágrimas. As águas nunca são as mesmas… Mas a força dela representa a fé. A renovação e transmutação.
A Dama que levo comigo, levo no rio que representa as minhas veias e o seu destino é o meu coração.
Opcha!!! Sara Kalli!!
Sãozinha Fernandes!!!
D. A. Lei 9610/98
Juiz de Fora /MG/ Brasil
Ervas e Chás
Quem nunca, Não é?
Recebeu um cuidado de uma mulher, onde o cuidado seria a base de um chá especial? Uma erva que só ela conhece?
Aquele mal estar ou coisa parecida ou outra coisa qualquer…
O fato é que esse cuidado está muito além da planta. Dentro do pote quando adicionado a erva, o mel, um cravo ou canela; também tem o amor, o cuidado, o carinho e o bem querer…
O conhecimento das ervas é muito bom e gratificante para quem recebe esse cuidado. Mas esse bem maior que vem junto ao cuidado: o amor - Esse sim cura a alma, acolhe o coração, cicatriza a dor das lágrimas…
Uma xícara de chá, com um afago nos cabelos e as seguintes palavras:
Tudo vai ficar bem!
Esse é o poder mágico que traz paz ao coração.
Estas foram às palavras que ouvi na feira, enquanto escolhia algumas ervas para temperar o jantar. Fiquei paralisada ao ouvi-las de uma idosa da barraca de ervas.
Então parei para olhar a Dona de sábias palavras.
Usava lenço nos cabelos, um vestido longo e poucos anéis nos dedos. Olhei dentro de seus olhos e lhe disse:
-Nem tomei o seu chá e já me senti em seu colo. Com tanto carinho em suas palavras…
E ela sorrindo respondeu:
-Então, cumpri minha missão por hoje! Afagar um coração!
-De onde a senhora vem?
- De lugar algum ou de todos os lugares! Venho de um povo sem pátria para espalhar o amor em forma de chá.
Colocou em minha orelha um pequeno galho de arrudas… dizendo:
-É assim que faz o povo cigano! Distribui coisas que o dinheiro não compra. Que a sorte esteja com você!
Saí da feira com o coração transbordando. E sempre que faço um chá, penso nela: A velha senhora - Penso naquela cigana!!!
Sãozinha Fernandes!!!
D. A. Lei 9610/98
Juiz de Fora /MG/ Brasil

O laço de cabelos
O Circo chegou à cidade, todos estavam ansiosos para o dia de estreia. A cidade era pequena, então um circo era um grande vento. Certamente todos estariam se preparando para o grande dia.
Murilo estava na fila de ingressos, olhava para todos os lados na esperança de ver Maria Rita, o seu grande amor não correspondido.
Na grade de entrada, havia vendedores de pipocas, algodão doce, doces em barras.
As crianças faziam muitos barulhos, gritaria, euforia. A pipoca cheirava longe e logo a fila crescia.
Murilo na fila sozinho para comprar a sua pipoca, enquanto a fila andava ele viu Maria Rita chegar com as irmãs no fim da fila de ingressos.
Seu coração disparou. Que efeito estranho ela tinha sobre ele.
Comprou sua pipoca e seguiu. Pouco mais a frente da grade estava uma cigana vendendo laços de cabelos. Ela tocou em Murilo dizendo:
-Compre-me um laço de fitas e conquiste a jovem do seu coração.
Murilo olhou surpreso para a cigana e ela explicou:
-Esse laço tem encanto de amor. Compre para a jovem e ela se encantará por você.
E Murilo respondeu:
-Mas se eu fizer assim, não será natural. Terá encantamento?
-Será natural, porque o encanto do amor está no gesto de ganhar o laço. Ele se torna um laço de amor.
-vou comprar, mas não sei se terei coragem de entregá-la…
-Oh, meu jovem! Se você não se arriscar, nunca saberá! Precisa sensibilizar a moça. Na verdade, a magia das coisas está dentro de cada um de nós Você emite a informação do coração e o resto acontece como tem que ser.
Se for para ser feliz, terá o retorno esperado. Se não for, ao menos você tentou…
Murilo comprou o laço e caminhou até Maria Rita. Com o olhar acanhado e um leve sorriso ele disse a ela:
-Comprei esse laço da cigana para você! Ela disse que ele tem um encanto e pode laçar um coração solitário. Será que é verdade?
Maria Rita sorrindo lhe respondeu:
-Se é verdade eu não sei, mas podemos nos sentar juntos, comer pipocas e quando acabar o espetáculo, você poderá colocá-lo nos meus cabelos. Então veremos o que acontece!
As irmãs de Maria Rita se afastaram e ela deu o braço para ele ao entrar.
Ele acenou para a cigana e apenas mexeu os lábios para ela sem voz:
-O b r i g a d o!
E ela retribuiu:
-É M a g i c o !!!
Sãozinha Fernandes!!!
D. A. Lei 9610/98
Juiz de Fora /MG/ Brasil

O cigano e o anel
Ele vivia sozinho em uma casa, aos fundos tinha uma oficina para criar as suas joias. Comprava objetos quebrados de ouro e prata para transformá-los em belos anéis.
Cada anel tinha uma história. Ele cuidava de cada detalhe para transformá-lo em único.
Ele morava sozinho, pois seu povo pegou a estrada, mas ele estava um pouco adoentado e não era o momento de viajar. Logo que melhorasse encontraria a sua família.
Sentia saudades e transformava a saudade em peças delicadas, dava nome a cada anel. Nome das mulheres de sua família.
Um casal foi até a sua oficina para encomendar as alianças de casamento. Levaram consigo o par de alianças que pertenceu aos seus avôs. Uma joia grande e de grossa espessura. Com apenas uma aliança poderia ser feito o par.
Então o Cigano Rocco aceitou a encomenda. Olhou dentro dos olhos dos jovens e viu os belos olhos azuis da noiva. e disse-lhes:
Voltem daqui a uma semana. Ficarão perfeitas as suas alianças
O rapaz estava acanhado em dizer, mas tinha pouco para pagar pelo serviço. Queria saber o preço, mas o cigano Rocco disse que só daria o valor do trabalho no dia da entrega.
Os jovens voltaram para casa, cabisbaixos, preocupados. Mas teriam que aguardar
Os noivos eram de família humilde e todos os amigos e familiares estavam ajudando nos preparativos de sua casa. Então eles não teriam coragem de pedir mais ajuda para pagar pela joia. O Cigano Rocco era famoso na cidade por criar belos anéis e ser um homem de bom caráter.
O Noivo trabalhava de sapateiro e a noiva era cozinheira em uma casa de família. De forma humilde eles estavam conseguindo arrumar suas coisinhas para casar. O principal eles tinham: a Casa dos avôs que ficou para ela.
Então a semana se passou e foi o casalzinho até a oficina do cigano Rocco na esperança de suas economias serem o suficiente para ter as alianças de volta.
A moça antes de perguntar qualquer coisa, entregou ao Cigano um bolo de laranja que havia acabado de fazer.
- Lhe trouxe um mimo. Soube que sua família está longe, então lhe trago um pouco de cozinha familiar para lhe alegrar…
Rocco sorriu para ela. De fato bolo, faz lembrar os cuidados de família, esposa…
-Eu sabia que a senhorita tinha algo muito especial! Só não imaginava o quanto especial seria…
O casal se olhou e o rapaz ainda não entendeu o que ele dizia…
-A senhorita é muito amorosa e me fez lembrar a minha esposa- Natasha! Tem os olhos azuis como os seus… Olhos de Rasputin… Assim que falo com ela.
A moça ficou vermelha e lhe entregou o embrulho do bolo que ainda estava quente.
E Rocco disse a ela:
-Também tenho uma surpresa para vocês. Aqui estão as alianças. Meu presente de casamento. Foi feito com apenas uma das alianças.
Com a outra fiz esse anel com a pedra safira. Combina com os olhos da jovem noivinha. Dei o nome a esse anel de Natasha. O nome da minha amada.
O casal ficou maravilhado com a atitude do cigano e o convidou para a cerimônia e ele respondeu:
-Agradeço pelo convite, mas parto hoje a noite em busca da minha cigana…
Sejam felizes! E bebam vinho! O líquido sagrado que abençoa as cerimônias…
O casal agradeceu e Rocco estava ansioso para ter novamente em seus braços a sua cigana Natasha! Olhos de Rasputin...
Sãozinha Fernandes!!!
D. A. Lei 9610/98
Juiz de Fora /MG/ Brasil

A viola que fala
Ele estava na praça tocando a sua viola. Um Flamenco solado. O som tomava o ambiente e as pessoas paravam, jogavam uma moeda no seu chapéu e apreciavam a música.
Bela, tocante e somente nas cordas…
As batidas dos pés e a batida na viola faziam marcações. Beleza de músicas que levavam a memória em uma viagem a Sevilha. Quase ouvia os gritos: Olé!!! Ao bater os pés no chão.
Os acordes pareciam passos chamando para dançar… A viola fazia o violeiro crescer enquanto o som tomava o ambiente e fazia as pessoas suspirar envolvidas com os ares ciganos espanhóis…
Ele fechava os olhos e ouvia o trepidar de moedas caindo.
Ai que saudade da Espanha, pensava ele…
Que saudades das ciganas rodando suas saias e seus mantões. Estalando os dedos ou dedilhando castanholas…
Guitarras ciganas ditando os ritmos. Alegria de um povo em uma canção. Todos naquela terra carregam um Flamenco na alma…
Então a viola falava ao coração do cigano que suspirava Sevilla. Sentia o cheiro de rosas dos cabelos da cigana. Os babados nas saias trepidavam ao vento como asas de borboletas e colibris nas flores…
Ai os ares de Sevilla! A viola o levava a cada roda de ciganos o grito entoado: Olé!
A viola tinha vida!!! Tinha passagem para o imaginário da vida cigana, do cigano violeiro, do cigano bamboleio. Deixou a Espanha, mas a Espanha não o deixou…
As moedas caiam pagando o preço da saudade!
Quanto mais ele entoava mais o povo se ajuntava, mais o povo aplaudia!
Ele fechava os olhos e via da alma a sua cigana favorita dançando com a rosa nos dentes. Procurando o seu olhar com os olhos manhosos e serrados! Jogando os cabelos e respirando como um toro na arena!!! As castanholas, a torada , a cigana!!!
Olé! Não dá para esquecer esse povo caliente! Cantante! Envolvente!
A viola levava o cigano a sua terra do coração! A sua cigana bailarina! A cigana de Andaluzia…
Então a música parou. Os olhos, ele abriu!
E de frente a ele estava ela. Sua cigana Mercedes! Sorrindo e iluminada!
Ofuscada pelo brilho do sol. Adornada pela luz!
Ele não acreditava no que via, mas ela estava lá. Diante dos seus olhos!
Antes que ele dissesse ela levou o dedo aos seus lábios tocando levemente e disse:
-Sua viola me chamou, aqui estou!
Ele sorriu como nunca! Invocou sua Mercedes ao tocar nova canção.
Ela retirou as castanholas e o acompanhou. Outra vez agora ambos dançando e tocando...
Olé!
Salve o meu povo cigano!
Sãozinha Fernandes!!!
D. A. Lei 9610/98
Juiz de Fora /MG/ Brasil

O amor impossível
Duas famílias ciganas acordaram um casamento. Porém os jovens não estavam de acordo. Um trato cigano não pode ser desfeito. O rapaz amava outra jovem, também cigana. Mas seus pais escolheram a filha do compadre Adone.
Anita era bela, mas não havia como se casar amando outra mulher…
Clovis pensou em fugir, seria a única forma de se safar do compromisso… Porém se seu descobrisse seu plano de fuga. As coisas ficariam complicadas.
Ela amava Rosário. Conhecia desde menina. Corriam pelas areias da praia. Colhia conchinhas para os seus colares. Construíam castelos de areia. Agora ele sentia se, como os castelos de areia.
O coração dilacerado. Olhava as águas do mar, sentado na areia , lembrando cada momento desde a infância. Não havia um só dia em que ele e Rosário não estivessem compartilhando suas alegrias, tristezas e emoções. De primos, melhores amigos a jovens apaixonados…
Ela também o amava e sofria com essa imposição do Tio. Por que não poderiam ser eles o seu casal favorito?
Ele ouvia o barulho das águas batendo nas pedras. Também tinha lágrimas nos olhos, uma dor enorme no peito e vontade de gritar.
Quando já estava exausto percebeu um pescador voltando da ilha com a sua pesca do dia.
-Quanto quer pelo barco?
O homem olhou incrédulo.
-Como pode querer comprar o meu meio de ganhar a vida?
-Preciso salvar a minha vida! Não posso continuar aqui e me casar com uma mulher que não amo. Preciso fugir com a minha amada...
-Filho, já falou isso com as pessoas da sua família? Que ama outra mulher?
-Meu pai não aceita outra noiva. Amo a minha Rosário preciso fugir com ela!
-Então me diga onde quer levá-la, que eu levo vocês…
-Faria isto mesmo?
-Não posso permitir um coração partido…
-Quero ir para outra ilha, do outro lado do mar. Onde os peixes são bem coloridos, o coqueiro alimenta os pássaros… as ondas fazem música na areia. As conchas são decorações. Vou construir uma cabana e vou viver do pescado. Vou cuidar da minha Rosário. Mas vou viver feliz.
-Então vá logo. Traga a moça. Viajaremos agora a noite. Amanhã na aurora do dia, vocês já estarão na ilha.
Clovis correu feito criança e chegou bem de mansinho. Falou com ela bem baixinho:
Pegue qualquer coisa mais necessária e vem embora comigo. Vamos morar em uma cabana do outro lado da ilha. Meu coração é só seu. Não posso atender ao meu pai…
Rosaria agradecida, fez uma pequena trouxinha. Correu pelas areias da praia de mãos dadas com Clovis, como quando eram crianças…
Subiram no barco do pescador…
Clovis a acolheu em seus braços, O que mais importa é o amor…
Sãozinha Fernandes!!!
D. A. Lei 9610/98
Juiz de Fora /MG/ Brasil

Estrela cigana
Tenho tatuado no corpo a estrela cigana, estrela de seis pontas para lembrar os maiores valores da vida:
Primeiro a misericórdia
Segundo o perdão
Terceiro a justiça
Quarto amor
Quinto o bem
Sexto a verdade
Ela me liga da terra ao céu. Ela é a estrela de Davi.
Faz-me lembrar da harmonia da vida. A criação divina. O brilho do sucesso, o brilho do amor.
Sou um Barô, por isso carrego a estrela, para lembrar o meu povo que não precisamos de terra para chamar de nossa. Temos uma cultura, uma língua, e uma visão de mundo milenar. Em qualquer lugar do mundo, sou reconhecido pelos meus. Onde mostro nossos símbolos, sou compreendido.
Se não sou bem recebido em alguma terra, monto acampamento de lona no meio da mata fechada, sou alimentado pela natureza e por ela sou guardado. Tenho o ouvido treinado para defender-me do perigo.
Sou feliz com o que tenho com o que sou.
a maior riqueza da vida é a saúde. Não se leva bens, somente amizades sinceras e seus feitos. Por isso, cada ponta da estrela cigana tem um comportamento para lembrar, como um cigano deve atuar.
A vida é um palco, quando se abrem as cortinas devemos doar o nosso melhor. Se não agradar a todos não se lamente! Cada dia é um recomeço uma história, um capítulo.
Sigo a estrela! Sou líder de mim mesmo.
Assim se descreveu o velho líder cigano diante do delegado que o acusava de coisas sem provas. Os cabelos brancos e as palavras sinceras deixaram os que o acusavam com a voz embargada. Homem mais honesto que aquele, jamais encontrariam.
Deram a voz de liberdade! Inocente!
E ao sair da delegacia, o seu povo cigano o esperava do lado de fora!
Bateram palmas e gritavam: Optcha!!!!
Libertaram o nosso Barô! O homem que liderava como estrela os mandamentos da estrela cigana!
Sãozinha Fernandes!!!
D. A. Lei 9610/98
Juiz de Fora /MG/ Brasil

Estradas e caminhos inversos
Os cavalos seguiam em direção contrária de onde ele gostaria de ficar. Deixou um amor, um sonho. Imaginava como seria se pudesse escolher ficar e viver todo esse sentimento.
Mas ela era casada. Um marido violento. Poderia matá-la por qualquer motivo. Imagine se soubesse de um novo amor.
Ele apaixonou-se à primeira vista. Quando a viu na rua comprando balas de uma criança. Ela tinha o olhar triste e vago. Parecia uma criança perdida. Saboreou a bala como quem nunca tivesse feito, sentou-se no banco da praça e ficou horas ali, olhando os pombos…
Como ele a observava?
Ele estava na praça vendendo seus tachos. Era assim que ele vivia.
Ela estava fresca em seu vestido azul celeste, os cabelos presos, a pele rosada pelo sol, porém o olhar distante como se sonhasse acordada. Havia lágrimas nos cantos dos olhos. Teimosas, ela tocava com as pontas dos dedos… retirava e secava na ponta da saia.
Logo apareceu o homem bruto e insensível que a segurou pelo braço levantando-a com força e perguntando se havia se esquecido das horas?
-Como pode um homem tratar assim uma mulher? Ele deu um passo à frente, caso ele sacudisse ela novamente o cigano a defenderia. Porém alguém o segurou. Era o seu irmão…
- Irmão! Não faça isso! Ele é o marido.
- Não pode fazer o que ele fez!
- Não pode mesmo! Mas você é um cigano. se caso se envolver estará errado diante da sociedade. Eles nunca darão razão.
A jovem levantou-se do banco de cabeça baixa e o marido a segurou pelo braço em passos largos ela seguiu seu caminho.
O cigano recolheu os tachos e embalou todas as coisas seguindo em direção inversa.
-É inadmissível tratar assim uma mulher. Não posso interferir, mas não concordo.
-Sabemos disto! Mas as pessoas têm muito a aprender… Se o casal não se respeita, deixou de ser casal!
-Ela é frágil!!!
-Não olhe para trás meu irmão. Todos os dias uma mulher passa por isso. E não tem um homem como você para perceber sua fragilidade…
Enquanto ela caminhava correndo, deixou cair o lenço que usava no pescoço. Ele recolheu o colocando no bolso.
Apaixonou-se por aquele olhar triste com lágrimas nos olhos e uma bala nos lábios…
Sãozinha Fernandes!!!
D. A. Lei 9610/98
Juiz de Fora /MG/ Brasil

O perfume
Que cheirinho gostoso tem esse cigano. Uma água perfumada que faz suspirar.
Ele colhia flores e fazia fragrâncias… não havia como ele se enganar.
Conhecia cada flor e o aroma favorito.
Colocava em belos vidros e exibiam os seus feitos. Toda hora uma cliente chegava para comprar.
A lojinha do cigano. O cheirinho delicioso…
As jovens entravam borrifaram e cheiravam…
-Hum delicioso…
Ele sorria malicioso, já sabia o que pensavam. Sabia que era bonito e desejado. Sabia que o seu perfume combinava bem com sua pele.
Não saia e marcava. Ele passava e elas inspiravam.
Ai esse cigano cheiroso… diziam as meninas…
Ele sabia perfumar com maestria. Embalagens bem bonitas e decoradas. A lojinha bem no centro e bem movimentada.
Mas ele era a atração principal. Cabelos pretos, amarrados. Bata branca e calça preta. Postura de dançarino de flamenco. Um sorriso misterioso, só isso bastava, mas para completar tinha que ser cheiroso…
A loja ficava cheia e lá estava em meio às moças o Cigano Juan…
Quase como Dom Juan, envolvido as charmosas mulheres que suspiravam e tinham que se conter com apenas levar para casa um frasco do seu perfume.
O perfume do Cigano Juan...
Sãozinha Fernandes!!!
D. A. Lei 9610/98
Juiz de Fora /MG/ Brasil
